1 ─ Evocação.
─ Ah! Como venho de longe!
2 ─ Podeis aparecer ao Sr. Adrien, nosso médium vidente, tal qual éreis na vossa existência que conhecemos?
─ Sim. E até, se quiserdes, virei com a lanterna.
Retrato:
Fronte larga e de ossos frontais bem pronunciados; nariz fino e aquilino; boca grande e séria; olhos pretos e encovados; olhar penetrante e zombeteiro. Rosto um pouco alongado, magro e enrugado; tez amarela; bigodes e barba incultos; cabelos grisalhos e ralos.
Roupa branca e muito suja; pernas e braços nus; corpo magro e ossudo. Sandálias estragadas, amarradas com cordas nas pernas.
3 ─ Dissestes que vínheis de longe. De que mundo vindes?
─ Não o conheceis.
4 ─ Teríeis a bondade de responder a algumas perguntas?
─ Com prazer.
5 ─ A existência em que vos conhecemos sob o nome de Diógenes, o Cínico, foi proveitosa à vossa felicidade futura?
─ Muito. Enganai-vos ridicularizando-a, como o fizeram meus contemporâneos. Admiro-me mesmo de que a História se haja inteirado tão pouco da minha existência e que a posteridade, pode-se dizer, tenha sido injusta comigo.
6 ─ Que bem pudestes fazer, de vez que vossa existência foi muito pessoal?
─ Trabalhei para mim, mas podiam aprender muito comigo.
7 ─ Quais as qualidades que gostaríeis de ter encontrado no homem que procuráveis com a lanterna?
─ Firmeza.
8 ─ Se em vosso caminho tivésseis encontrado o homem que acabamos de evocar, Chaudruc-Duclos, que também renunciava voluntariamente a todo supérfluo, teríeis visto nele o homem que procuráveis?
─ Não.
9 ─ Que pensais dele?
─ Sua alma transviou-se na Terra. Quantos são como ele e não o sabem!... Ele pelo menos o sabia.
10 ─ Pensáveis possuir as qualidades que procuráveis no homem?
─ Sem dúvida. Eu tinha o meu critério.
11 ─ Qual dos filósofos do vosso tempo tem a vossa preferência?
─ Sócrates.
12 ─ Qual o que preferis agora?
─ Sócrates.
13 ─ E o que dizeis de Platão?
─ Muito duro. Sua filosofia é muito severa. Eu admitia os poetas, ele, não!
14 ─ É verdade aquilo que se conta de vossa entrevista com Alexandre?
─ Realíssimo. A História até a truncou.
15 ─ Em que a História a truncou?
─ Refiro-me a outras conversas entre nós dois. Pensais que ele me tivesse vindo ver para só me dizer uma palavra?
16 ─ É verdadeiro o dito que se lhe atribui, de que se ele não fosse Alexandre gostaria de ser Diógenes?
─ Talvez o tenha dito, mas não em minha presença. Alexandre era um jovem maluco, vão e orgulhoso. Aos seus olhos eu não passava de um mendigo. Como poderia o tirano se dizer instruído pelo miserável?
17 ─ Reencarnastes na Terra depois de vossa existência em Atenas?
─ Não, mas em outros mundos. Atualmente pertenço a um mundo em que não somos escravos. Isso quer dizer que se vos evocassem em estado de vigília, não poderíeis atender ao chamado, como entretanto o faço esta noite.
18 ─ Poderíeis traçar-nos um quadro das qualidades que buscáveis no homem, tais quais as concebíeis então e tais quais as concebeis atualmente?
─ OUTRORA: Coragem, ousadia, segurança de si mesmo e poder sobre os homens, pela inteligência. AGORA: Abnegação, doçura e poder sobre os homens, pelo coração.
Não sendo escravo do corpo, no mundo superior em que se encontrava, Diógenes podia atender à evocação, embora estivesse acordado no momento em que se realizava a sessão. O Espírito aproveitou a ocasião para acentuar a diferença entre o nosso mundo e o mundo superior em que então vivia. A resposta à pergunta seguinte confirma essa condição mais elevada que ele havia atingido, e o faz de maneira muito significativa. Na Terra ele buscava um homem dominador, cheio de ousadia e firmeza; com a visão dos mundos superiores prefere um abnegado, capaz de dirigir por meio do amor. (N. da Eq. Revisora Edicel)