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Revista Espírita 1862 » Fevereiro » Cumprimentos de ano-novo Revue Spirite 1862 » Février » Les souhaits de nouvel an

Várias centenas de cartas nos foram dirigidas pelo ano-novo, de modo que nos é materialmente impossível responder uma a uma. Pedimos, pois, aos nossos dignos correspondentes aqui recebam a expressão de nosso agradecimento sincero pelo testemunho de simpatia que tiveram a bondade de nos dar. Uma entre elas, entretanto, por sua natureza, exige uma resposta especial. É a dos espíritas de Lyon, subscrita por cerca de duzentas assinaturas.

Aproveitamos a circunstância para transmitir, a seu pedido, alguns conselhos gerais. A Sociedade Espírita de Paris, fundada por nós, julgando que podia ser útil a todo o mundo, não só nos sugeriu que a publicássemos na Revista, como também votou a sua impressão separada para ser distribuída a todos os seus sócios.

Todos aqueles que tiveram a gentileza de nos escrever participaram dos sentimentos de reciprocidade que aí exprimimos e que se dirigem, sem exceção, a todos os espíritas franceses e estrangeiros, que nos honram com o título de seu chefe e de seu guia na nova via que se lhes abre.

Não nos dirigimos apenas aos que nos escreveram, pela passagem do ano-novo, mas a todos os que, a cada momento, nos dão tocantes provas de seu reconhecimento pela felicidade e pelas consolações que encontram na doutrina e que nos relatam as suas penas e os seus esforços para ajudar a sua propagação. A todos, enfim, aos quais nossos trabalhos servem para algo na marcha progressiva do Espiritismo.

 

Resposta à mensagem dos espíritas lioneses por ocasião do Ano Novo.

 

Meus caros irmãos e amigos de Lyon.

 

A mensagem coletiva que tivestes a bondade de me enviar pela passagem do ano-novo causou-me viva satisfação, provando que conservastes de mim uma boa lembrança. Mas o que me deu maior prazer, em vosso ato espontâneo, foi o de encontrar, entre as numerosas assinaturas, representação de quase todos os grupos, pois é um sinal da harmonia reinante entre eles. Sinto-me feliz por terdes compreendido o objetivo desta organização, cujos resultados já podeis apreciar, pois agora vos deve ser evidente que uma sociedade única teria sido quase impossível.

Agradeço-vos, meus bons amigos, os votos que me formulais. Eles me são tanto mais agradáveis quanto sei que partem do coração, e são os que Deus escuta. Ficai satisfeitos porque ele os escuta diariamente, dando-me a alegria inaudita no estabelecimento de uma nova doutrina, de ver aquela a que me devotei crescer e prosperar, em meus dias, com rapidez maravilhosa. Encaro como um grande favor do Céu o ser testemunha do bem que ela já faz. Essa certeza, da qual diariamente recebo os mais tocantes testemunhos, me paga com lucros todas as penas e fadigas. Só uma graça peço a Deus, a de me dar a força física necessária para ir até o fim de minha tarefa, que está longe de ser concluída. Mas, haja o que houver, terei sempre a consolação da certeza de que a semente das ideias novas, agora espalhada por toda a parte, é imperecível. Mais feliz que muitos outros, que não trabalharam senão para o futuro, a mim me é dado ver os primeiros frutos. Se algo lamento, é que a exiguidade de meus recursos pessoais não me permita pôr em execução os planos que tracei para seu mais rápido desenvolvimento. Se, porém, em sua sabedoria, Deus o quis de outro modo, legarei esse plano aos meus sucessores que, sem dúvida, serão mais felizes.

Malgrado a penúria de recursos materiais, o movimento de opinião que se opera ultrapassou toda expectativa. Crede, meus irmãos, que vosso exemplo não deixou de ter influência nisso.

Recebei nossas felicitações pela maneira pela qual sabeis compreender e praticar a doutrina. Sei quão grandes são as provas que muitos de vós tendes de suportar. Só Deus lhes conhece o termo aqui na Terra. Mas, também, quanta força contra a adversidade nos dá a fé no futuro! Oh! Lamentai os que acreditam no nada após a morte, pois para eles o mal presente não tem compensação. O incrédulo infeliz é como o doente que não espera a cura. Ao contrário, o espírita é como aquele que, doente hoje, sabe que amanhã estará curado.

Pedis que continue com os meus conselhos. Eu os dou de boa vontade aos que os pedem e creem que deles necessitam. Mas só a esses. Aos que julgam saber muito e que dispensam as lições da experiência, nada tenho a dizer, a não ser que desejo não que tenham um dia de lamentar-se por terem confiado demais nas próprias forças. Tal pretensão, aliás, acusa um sentimento de orgulho, contrário ao verdadeiro espírito do Espiritismo. Ora, pecando pela base, aqueles provam, só por isto, que se afastam da verdade. Não sois desse número, meus amigos, por isso aproveito a circunstância para vos dirigir algumas palavras que vos provarão que, de perto ou de longe, sou todo vosso.

No ponto em que hoje as coisas se acham e considerando-se a marcha do Espiritismo por meio dos obstáculos semeados em sua rota, pode-se dizer que as principais dificuldades foram vencidas. Ele tomou o seu lugar e assentou-se em bases que de agora em diante desafiam os esforços dos adversários.

Pergunta-se como pode ter adversários uma doutrina que nos torna felizes e melhores. Isto é muito natural. Em seu início, o estabelecimento das melhores coisas sempre fere interesses. Não tem sido assim com todas as invenções e descobertas, que revolucionam a Indústria? Não tiveram inimigos encarniçados aquelas que hoje são consideradas como benefícios e das quais não nos poderíamos privar? Toda lei que reprime abusos não tem contra si os que vivem do abuso? Como queríeis que uma doutrina que conduz ao reino da caridade efetiva não fosse combatida por quantos vivem no egoísmo? E sabeis como estes são numerosos na Terra! No princípio esperavam matá-lo pela zombaria. Hoje veem que tal arma é impotente e que, sob o fogo cerrado dos sarcasmos ele continuou sua rota sem tropeços. Não penseis que eles se confessarão vencidos. Não, o interesse material é mais tenaz. Reconhecendo que é uma potência que agora deve ser levada em conta, vão desfechar ataques mais sérios, mas que servirão para melhor provar a fraqueza deles. Uns o atacarão abertamente, em palavras e atos, e persegui-lo-ão até na pessoa de seus adeptos, tentando desencorajá-los à força de intrigas, enquanto outros sub-repticiamente, por vias indiretas, procurarão miná-lo surdamente. Ficai avisados: a luta não terminou. Estou prevenindo que eles vão tentar um supremo esforço. Não temais, entretanto, pois o penhor do sucesso está nesta divisa, que é a de todos os verdadeiros espíritas: Fora da caridade não há salvação. Hasteai-a bem alto, porque ela é a cabeça de Medusa para os egoístas.

A tática ora em ação pelos inimigos dos espíritas, mas que vai ser empregada com novo ardor, é a de tentar dividi-los, criando sistemas divergentes e suscitando entre eles a desconfiança e a inveja. Não vos deixeis cair na armadilha, e tende certeza de que quem quer que procure, seja por que meio for, romper a boa harmonia, não pode ter boas intenções. Eis por que vos advirto para que tenhais a maior circunspeção na formação dos vossos grupos, não só para a vossa tranquilidade, mas no próprio interesse dos vossos trabalhos.

A natureza dos trabalhos espíritas exige calma e recolhimento. Ora, isto não é possível se somos distraídos pelas discussões e pela expressão de sentimentos malévolos. Se houver fraternidade, não haverá sentimentos malévolos, mas não pode haver fraternidade com egoístas, ambiciosos e orgulhosos. Com orgulhosos que se chocam e se ferem por tudo; com ambiciosos que se desiludem quando não têm a supremacia; com egoístas que só pensam em si mesmos, a cizânia não tardará a ser introduzida. Daí, vem a dissolução. É o que queriam nossos inimigos e é o que tentarão fazer.

Se um grupo quiser estar em condições de ordem, de tranquilidade, de estabilidade, é preciso que nele reine um sentimento fraterno. Todo grupo ou sociedade que se formar sem ter por base a caridade efetiva não terá vitalidade, enquanto os que se formarem segundo o verdadeiro espírito da doutrina olhar-se-ão como membros de uma mesma família que, não podendo viver todos sob o mesmo teto, moram em lugares diversos. Entre eles, a rivalidade seria uma insensatez, pois ela não poderia existir onde reina a verdadeira caridade, porque a caridade não pode ser entendida de duas maneiras. Reconhecei, pois, o verdadeiro espírita pela prática da caridade em pensamentos, palavras e atos, e dizei a vós mesmos que aquele que em sua alma nutre sentimentos de animosidade, de rancor, de ódio, de inveja e de ciúme mente para si mesmo se pretende compreender e praticar o Espiritismo.

O egoísmo e o orgulho matam as sociedades particulares, como matam os povos e as sociedades em geral. Lede a história e vereis que os povos sucumbem sob o abraço desses dois mortais inimigos da felicidade humana. Quando se apoiarem nas bases da caridade, serão indissolúveis, porque estarão em paz entre si e consigo mesmos, cada um respeitando os bens e os direitos de seu vizinho. Essa será a nova era predita, da qual o Espiritismo é o precursor, e para a qual todo espírita deve trabalhar, cada um na sua esfera de atividade. É uma tarefa que lhes incumbe, e da qual serão recompensados conforme a maneira pela qual a tenham realizado, pois Deus saberá distinguir os que no Espiritismo só procuraram a sua satisfação pessoal, dos que ao mesmo tempo trabalharam pela felicidade de seus irmãos.

Devo ainda assinalar-vos outra tática dos nossos adversários, a de procurar comprometer os espíritas, induzindo-os a se afastarem do verdadeiro objetivo da doutrina, que é o da moral, para abordarem questões que não são de sua alçada e que, a justo título, poderiam despertar suscetibilidades e desconfianças. Não vos deixeis cair nessa armadilha; afastai cuidadosamente de vossas reuniões tudo quando se refere à política e a questões irritantes; a tal respeito, as discussões apenas suscitarão embaraços, enquanto ninguém terá nada a objetar à moral, quanto esta for boa. Procurai no Espiritismo aquilo que vos pode melhorar: eis o essencial. Quando os homens forem melhores, as reformas sociais realmente úteis serão uma consequência natural; trabalhando pelo progresso moral, lançareis os verdadeiros e mais sólidos fundamentos de todas as melhoras, e deixareis a Deus o cuidado de fazer com que cheguem no devido tempo. No próprio interesse do Espiritismo, que é ainda jovem, mas que amadurece depressa, oponde uma firmeza inquebrantável aos que quiserem vos arrastar por uma via perigosa.

Visando desacreditar o Espiritismo, pretendem alguns que ele vá destruir a religião. Sabeis exatamente o contrário, pois a maioria de vós, que mal acreditáveis em Deus e na alma, agora creem; quem não sabia o que era orar, ora com fervor; quem não mais punha os pés nas igrejas, agora vai com recolhimento. Aliás, se a religião devesse ser destruída pelo Espiritismo, é que ela seria destrutível e o Espiritismo seria mais poderoso. Dizê-lo seria uma inabilidade, pois seria confessar a fraqueza de uma e a força do outro. O Espiritismo é uma doutrina moral que fortalece os sentimentos religiosos em geral e se aplica a todas as religiões; ele é de todas, e não é de nenhuma em particular; por isso não diz a ninguém que a troque; deixa a cada um livre para adorar Deus à sua maneira e para observar as práticas que sua consciência lhe dita, pois Deus leva mais em conta a intenção do que o fato. Ide, pois, cada um aos templos do vosso culto, e provai com isso que vos caluniam quando vos taxam de impiedade.

Na impossibilidade material em que me acho de manter relações com todos os grupos, pedi a um de vossos confrades que me representasse mais especialmente em Lyon, como o fiz alhures: é o Sr. Villon, cujo zelo e devotamento são do vosso conhecimento, tanto quanto a pureza de seus sentimentos. Além disso, sua posição independente lhe dá mais folga para a tarefa de que se quer encarregar; tarefa pesada, mas diante da qual ele não recuará. O grupo que formou em sua casa ele o fez sob meus auspícios e conforme as minhas instruções, quando de minha última viagem; ali encontrareis excelentes conselhos e salutares exemplos. É com viva satisfação que verei todos os que me honram com sua confiança a ele se ligarem como a um centro comum. Se alguns quiserem fazer um grupo à parte, não os olheis com maus olhos; se vos atirarem pedras, nem as recolhais, nem as devolvais: entre eles e vós Deus será juiz dos sentimentos de cada um. Aqueles que creem ser os únicos a estar com a verdade que o provem por uma maior caridade e uma maior abnegação de amor-próprio, porque a verdade não poderia estar ao lado daquele que falta ao primeiro preceito da doutrina. Se estiverdes em dúvida, fazei sempre o bem: os erros do espírito pesam menos na balança de Deus que os erros do coração.

Repetirei aqui o que disse noutras ocasiões: em caso de divergência de opinião, o meio fácil de sair da incerteza é ver qual a que reúne mais partidários, pois há nas massas um bom-senso inato que não se poderia enganar. O erro só seduz alguns espíritos enceguecidos pelo amor próprio e por um falso julgamento, mas a verdade sempre acaba vencendo. Tende certeza, portanto, que o erro deserta das fileiras que se esclarecem e que há uma obstinação irracional em crer que um só tenha razão contra todos. Se os princípios que eu professo só tivessem ecos isolados, e se tivessem sido repelidos pela opinião geral, eu seria o primeiro a reconhecer que poderia ter me enganado; mas vendo crescer incessantemente o número dos aderentes em todas as camadas da sociedade e em todos os países do mundo, devo acreditar na solidez das bases sobre as quais repousam. Eis por que vos digo com toda a segurança para que marcheis com passo firme na via que vos é traçada. Dizei aos antagonistas que se eles querem que os sigais, que vos ofereçam uma doutrina mais consoladora, mais clara, mais inteligível, que melhor satisfaça à razão e que, ao mesmo tempo, seja uma garantia melhor para a ordem social. Pela vossa união, frustrai os cálculos dos que vos queiram dividir; provai, enfim, pelo vosso exemplo, que a doutrina nos torna mais moderados, mais dóceis, mais pacientes, mais indulgentes, o que será a melhor resposta a dar aos seus detratores, ao mesmo tempo que a visão de seus resultados benéficos é o mais poderoso meio de propaganda.

Eis, meus amigos, os conselhos que vos dou e aos quais junto os meus votos para o ano que começa. Não sei que provas Deus nos destina para este ano, mas sei que, sejam quais forem, as suportareis com firmeza e resignação, pois sabeis que para vós, como para o soldado, a recompensa é proporcional à coragem.

Quanto ao Espiritismo, pelo qual vos interessais mais do que por vós mesmos, e cujo progresso, pela minha posição, posso julgar melhor que ninguém, sinto-me feliz em dizer-vos que o ano se inicia sob os mais favoráveis auspícios, e que ele verá, sem dúvida nenhuma, o número dos adeptos crescer numa proporção imprevisível. Mais alguns anos como estes que se passaram, e o Espiritismo terá a seu favor três quartas partes da população. Deixai que vos cite um fato entre milhares.

Num departamento vizinho de Paris há uma cidadezinha onde o Espiritismo penetrou apenas há seis meses. Em poucas semanas tomou um desenvolvimento considerável. Uma oposição formidável logo foi organizada contra os seus partidários, ameaçando até os seus interesses particulares. Eles enfrentaram tudo com uma coragem e um desinteresse dignos dos maiores elogios. Entregaram-se à Providência e a Providência não lhes faltou. Essa cidade conta com uma população operária numerosa, em cujo meio as ideias espíritas, graças à oposição levantada, aumenta dia a dia. Ora, um fato digno de nota é que as mulheres e as moças esperaram sua gratificação de ano-novo para comprar as obras necessárias à sua instrução e só para essa cidade um livreiro teve que remetê-las às centenas.

Não é prodigioso ver simples operárias reservarem suas economias para comprar livros de moral e de filosofia em vez de romances e bugigangas? Homens preferindo essa leitura às alegrias barulhentas e embrutecedoras do cabaret?[1] Ah! É que aqueles homens e aquelas mulheres, que sofrem como vós, agora compreendem que não é aqui que se realiza o seu destino. Abrem-se as cortinas, e eles entreveem os esplêndidos horizontes do futuro. Essa cidadezinha é Chauny, no departamento do Aisne. Novos filhos da grande família, eles vos saúdam, irmãos de Lyon, como seus irmãos maiores, e desde já formam um dos elos da cadeia espiritual que une Paris, Lyon, Metz, Sens, Bordeaux e outras, e que em breve ligarão todas as cidades do mundo num sentimento de mútua confraternidade, porque em toda parte o Espiritismo lançou sementes fecundas e seus filhos se dão as mãos por cima das barreiras dos preconceitos de seitas, castas e nacionalidades.

 

Vosso muito dedicado irmão e amigo,

 

ALLAN KARDEC



[1] Cabaret, café-concerto: estabelecimento onde se vende comida e bebida aos frequentadores. Cabaret é um termo indiferente que não implica nada de desfavorável, a não ser que é um lugar destinado à frequentação de “petites gens”, que quer dizer, ralé, plebe, populacho. (Dictionnaire Littré) (Nota da Equipe IPEAK)


Plusieurs centaines de lettres nous ayant été adressées à l'occasion de la nouvelle année, il nous a été matériellement impossible de répondre à chacune en particulier; nous prions donc nos honorables correspondants d'agréer ici l'expression de notre sincère gratitude pour les témoignages de sympathie qu'ils veulent bien nous donner. Dans le nombre, cependant; il en est une qui, par sa nature, demandait une réponse spéciale; c'est celle des Spirites de Lyon, revêtue d'environ deux cents signatures. Nous en avons profité pour y joindre, sur leur demande, quelques conseils généraux. La Société Spirite de Paris, à laquelle nous en avons donné connaissance, ayant jugé qu'elle pouvait être utile à tout le monde, nous a non seulement invité à la publier dans la Revue, mais en a voté l'impression séparée pour être distribuée à tous ses membres. Tous ceux qui ont eu l'obligeance de nous écrire voudront bien prendre leur part des sentiments de réciprocité que nous y exprimons, et qui s'adressent, sans exception, à tous les Spirites français et étrangers qui nous honorent du titre de leur chef et de leur guide dans la nouvelle voie qui leur est ouverte. Ce n'est donc pas seulement à ceux qui nous ont écrit à l'occasion de la nouvelle année que nous nous adressons, mais à tous ceux qui nous donnent à chaque instant des preuves si touchantes de leur reconnaissance pour le bonheur et les consolations qu'ils puisent dans la doctrine, et qui nous tiennent compte de nos peines et de nos efforts pour aider à sa propagation; à tous ceux enfin qui pensent que nos travaux sont pour quelque chose dans la marche progressive du Spiritisme.

Réponse à l'adresse des Spirites Lyonnais à l'occasion de la nouvelle année.

Mes chers frères et amis de Lyon,

L'adresse collective que vous avez bien voulu m'envoyer à l'occasion de la nouvelle année m'a causé une bien vive satisfaction, en me prouvant que vous avez conservé de moi un bon souvenir; mais ce qui m'a fait le plus de plaisir dans cet acte spontané de votre part, c'est de trouver parmi les nombreuses signatures qui y figurent des représentants d'à peu près tous les groupes, parce que c'est un signe de l'harmonie qui règne entre eux. Je suis heureux de voir que vous avez parfaitement compris le but de cette organisation, dont vous pouvez déjà apprécier les résultats, car il doit être évident pour vous maintenant qu'une Société unique eût été à peu près impossible.

Je vous remercie, mes bons amis, des vœux que vous formez pour moi; ils me sont d'autant plus agréables que je sais qu'ils partent du cœur, et ce sont ceux que Dieu écoute. Soyez donc satisfaits, car il les exauce chaque jour en me donnant la joie, inouïe dans l'établissement d'une nouvelle doctrine, de voir celle à laquelle je me suis dévoué grandir et prospérer de mon vivant avec une merveilleuse rapidité. Je regarde comme une grande faveur du ciel d'être témoin du bien qu'elle fait déjà. Cette certitude, dont je reçois journellement les plus touchants témoignages, me paye avec usure de toutes mes peines et de toutes mes fatigues; je ne demande à Dieu qu'une grâce, c'est de me donner la force physique nécessaire pour aller jusqu'au bout de ma tâche, qui est loin d'être achevée; mais, quoi qu'il arrive, j'aurai toujours la consolation d'être assuré que la semence des idées nouvelles, maintenant répandue partout, est impérissable; plus heureux que beaucoup d'autres, qui n'ont travaillé que pour l'avenir, il m'est donné d'en voir les premiers fruits. Si je regrette une chose, c'est que l'exiguïté de mes ressources personnelles ne me permette pas de mettre à exécution les plans que j'ai conçus pour son avancement plus rapide encore; mais si Dieu, dans sa sagesse, a cru devoir en décider autrement, je léguerai ces plans à mes successeurs, qui, sans doute, seront plus heureux. Malgré la pénurie des ressources matérielles, le mouvement qui s'opère dans l'opinion a dépassé toute espérance; croyez bien, mes frères, qu'en cela votre exemple n'aura pas été sans influence. Recevez donc nos félicitations pour la manière dont vous savez comprendre et pratiquer la doctrine. Je sais combien sont grandes les épreuves que beaucoup d'entre vous ont à supporter; Dieu seul en connaît le terme ici- bas; mais aussi quelle force la foi en l'avenir ne donne-t-elle pas contre l'adversité! Oh! plaignez ceux qui croient au néant après la mort, car pour eux le mal présent est sans compensation. L'incrédule malheureux est comme le malade qui n'espère aucune guérison; le Spirite, au contraire, est comme celui qui est malade aujourd'hui et qui sait que demain il se portera bien.

Vous me demandez de vous continuer mes conseils; j'en donne volontiers à ceux qui croient en avoir besoin et qui les réclament; mais je n'en donne qu'à ceux-là; à ceux qui pensent en savoir assez et pouvoir se passer des leçons de l'expérience, je n'ai rien à dire, sinon que je souhaite qu'ils n'aient pas à regretter un jour d'avoir trop présumé de leurs propres forces. Cette prétention, d'ailleurs, accuse un sentiment d'orgueil contraire au véritable esprit du Spiritisme; or, péchant par la base, ils prouvent par cela seul qu'ils s'écartent de la vérité. Vous n'êtes pas de ce nombre, mes amis, c'est pourquoi je profite de la circonstance pour vous adresser quelques paroles qui vous prouveront que, de loin comme de près, je suis tout à vous.

Au point où en sont les choses aujourd'hui, et à voir la marche du Spiritisme à travers les obstacles semés sur sa route, on peut dire que les principales difficultés sont vaincues; il a pris son rang et s'est assis sur des bases qui défient désormais les efforts de ses adversaires. On se demande comment une doctrine qui rend heureux et meilleur peut avoir des ennemis; cela est tout naturel: l'établissement des meilleures choses froisse toujours des intérêts en commençant; n'en a-t-il pas été ainsi de toutes les inventions et découvertes qui ont fait révolution dans l'industrie? Celles qui sont regardées aujourd'hui comme des bienfaits dont on ne pourrait plus se passer n'ont-elles pas eu des ennemis acharnés? Toute loi qui réprime des abus n'a-t-elle pas contre elle ceux qui vivent des abus? Comment voudriez-vous qu'une doctrine qui conduit au règne de la charité effective ne soit pas combattue par tous ceux qui vivent d'égoïsme; et vous savez s'ils sont nombreux sur la terre! Dans le principe ils ont espéré le tuer par la raillerie; aujourd'hui ils voient que cette arme est impuissante, et que sous le feu roulant des sarcasmes il a continué sa route sans broncher; ne croyez pas qu'ils vont s'avouer vaincus; non, l'intérêt matériel est plus tenace; reconnaissant que c'est une puissance avec laquelle il faut désormais compter, ils vont lui livrer des assauts plus sérieux, mais qui ne serviront qu'à mieux prouver leur faiblesse. Les uns l'attaqueront ouvertement en paroles et en actions et le poursuivront jusque dans la personne de ses adhérents, qu'ils essayeront de décourager à force de tracasseries, tandis que d'autres, en dessous main et par des voies détournées, chercheront à le miner sourdement. Tenez-vous donc pour avertis que la lutte n'est pas terminée. Je suis prévenu qu'ils vont tenter un suprême effort; mais soyez sans crainte: le gage du succès est dans cette devise, qui est celle de tous les vrais Spirites: Hors la charité point de salut. Arborez-la hautement, car elle est la tête de Méduse pour les égoïstes.

La tactique déjà mise en œuvre par les ennemis des Spirites, mais qu'ils vont employer avec une nouvelle ardeur, c'est d'essayer de les diviser en créant des systèmes divergents et en suscitant parmi eux la défiance et la jalousie. Ne vous laissez pas prendre au piège, et tenez pour certain que quiconque cherche, par un moyen quel qu'il soit, à rompre la bonne harmonie, ne peut avoir une bonne intention. C'est pourquoi je vous invite à mettre la plus grande circonspection dans la formation de vos groupes, non seulement pour votre tranquillité, mais dans l'intérêt même de vos travaux.

La nature des travaux spirites exige le calme et le recueillement; or, point de recueillement possible, si l'on est distrait par les discussions et l'expression de sentiments malveillants. Il n'y aura pas de sentiments malveillants, s'il y a fraternité; mais il ne peut y avoir fraternité avec des égoïstes, des ambitieux et des orgueilleux. Avec des orgueilleux qui se froissent et se blessent de tout, des ambitieux qui seront déçus s'ils n'ont pas la suprématie, des égoïstes qui ne pensent qu'à eux, la zizanie ne peut tarder à s'introduire, et de là, la dissolution. C'est ce que voudraient nos ennemis, et c'est ce qu'ils chercheront à faire. Si un groupe veut être dans des conditions d'ordre, de tranquillité et de stabilité, il faut qu'il y règne un sentiment fraternel. Tout groupe ou société qui se formera sans avoir la charité effective pour base, n'a pas de vitalité; tandis que ceux qui seront fondés selon le véritable esprit de la doctrine se regarderont comme les membres d'une même famille, qui, ne pouvant tous habiter sous le même toit, demeurent en des endroits différents. La rivalité entre eux serait un non-sens; elle ne saurait exister là où règne la vraie charité, car la charité ne peut s'entendre de deux manières. Reconnaissez donc le vrai Spirite à la pratique de la charité en pensées, en paroles et en actions, et dites-vous que quiconque nourrit en son âme des sentiments d'animosité, de rancune, de haine, d'envie ou de jalousie se ment à lui-même s'il prétend comprendre et pratiquer le Spiritisme.

L'égoïsme et l'orgueil tuent les sociétés particulières, comme ils tuent les peuples et la société en général. Lisez l'histoire, et vous verrez que les peuples succombent sous l'étreinte de ces deux mortels ennemis du bonheur des hommes. Quand ils s'appuieront sur les bases de la charité, ils seront indissolubles, parce qu'ils seront en paix entre eux et chez eux, chacun respectant les droits et les biens de son voisin. C'est là l'ère nouvelle prédite dont le Spiritisme est le précurseur, et à laquelle tout Spirite doit travailler, chacun dans sa sphère d'activité. C'est une tâche qui leur incombe, et dont ils seront récompensés selon la manière dont ils l'auront accomplie, car Dieu saura distinguer ceux qui n'auront cherché dans le Spiritisme que leur satisfaction personnelle, de ceux qui auront en même temps travaillé au bonheur de leurs frères.

Je dois encore vous signaler une autre tactique de nos adversaires, c'est de chercher à compromettre les Spirites en les poussant à s'écarter du véritable but de la doctrine, qui est celui de la morale, pour aborder des questions qui ne sont pas de son ressort, et qui pourraient à juste titre éveiller des susceptibilités ombrageuses. Ne vous laissez pas non plus prendre à ce piège; écartez avec soin, dans vos réunions, tout ce qui à rapport à la politique et aux questions irritantes; les discussions, sous ce rapport, n'aboutiraient à rien qu'à vous susciter des embarras, tandis que personne ne peut trouver à redire à la morale quand elle est bonne. Cherchez, dans le Spiritisme, ce qui peut vous améliorer, c'est là l'essentiel; lorsque les hommes seront meilleurs, les réformes sociales vraiment utiles en seront la conséquence toute naturelle; en travaillant au progrès moral, vous poserez les véritables et les plus solides fondements de toutes les améliorations, et laissez à Dieu le soin de faire arriver les choses en leur temps. Opposez donc, dans l'intérêt même du Spiritisme qui est encore jeune, mais qui vieillit vite, une inébranlable fermeté à ceux qui chercheraient à vous entraîner dans une voie périlleuse.

En vue de discréditer le Spiritisme, quelques-uns prétendent qu'il va détruire la religion. Vous savez bien le contraire, puisque la plupart d'entre vous qui croyaient à peine à Dieu et à leur âme y croient maintenant; qui ne savaient ce que c'était que prier, et qui prient avec ferveur; qui ne mettaient plus les pieds dans les églises, et qui y vont avec recueillement. D'ailleurs, si la religion devait être détruite par le Spiritisme, c'est qu'elle serait destructible et que le Spiritisme serait plus puissant: le dire serait une maladresse, car ce serait avouer la faiblesse de l'une et la force de l'autre. Le Spiritisme est une doctrine morale qui fortifie les sentiments religieux en général et s'applique à toutes les religions; il est de toutes, et n'est d'aucune en particulier; c'est pourquoi il ne dit à personne d'en changer; il laisse chacun libre d'adorer Dieu à sa manière, et d'observer les pratiques que lui dicte sa conscience: Dieu tenant plus compte de l'intention que du fait. Allez donc chacun dans les temples de votre culte, et prouvez par là qu'en le taxant d'impiété on le calomnie.

Dans l'impossibilité matérielle où je suis d'entretenir des rapports avec tous les groupes, j'ai prié un de vos confrères de vouloir bien me représenter plus spécialement à Lyon, comme je l'ai fait ailleurs; c'est M. Villon, dont le zèle et le dévouement vous sont connus, aussi bien que la pureté de ses sentiments. Sa position indépendante lui donne en outre plus de loisir pour la tâche dont il veut bien se charger; tâche lourde, mais devant laquelle il ne reculera pas. Le groupe qu'il a formé chez lui l'a été sous mes auspices et d'après mes instructions lors de mon dernier voyage; vous y trouverez d'excellents conseils et de salutaires exemples. Je verrai donc avec une vive satisfaction tous ceux qui m'honorent de leur confiance s'y rallier comme à un centre commun. Si quelques-uns voulaient faire bande à part, gardez-vous de les voir d'un mauvais œil; et s'ils vous jettent la pierre, ne la ramassez pas, ne la leur renvoyez pas: entre eux et vous Dieu sera juge des sentiments de chacun. Que ceux qui croiront être dans le vrai à l'exclusion des autres le prouvent par une plus grande charité et une plus grande abnégation d'amour-propre, car la vérité ne saurait être du côté de celui qui manque au premier précepte de la doctrine. Si vous êtes dans le doute, faites toujours le bien: les erreurs de l'esprit pèsent moins dans la balance de Dieu que les erreurs du cœur.

Je répéterai ici ce que j'ai dit en d'autres occasions: en cas de divergence d'opinion, il est un moyen facile de sortir d'incertitude, c'est de voir celle qui rallie le plus de partisans, parce qu'il y a dans les masses un bon sens inné qui ne saurait tromper. L'erreur ne peut séduire que quelques esprits aveuglés par l'amour-propre et un faux jugement, mais la vérité finit toujours par l'emporter; tenez donc pour certain qu'elle déserte les rangs qui s'éclaircissent, et qu'il y a une obstination irrationnelle à croire qu'un seul a raison contre tous. Si les principes que je professe ne trouvaient que quelques échos isolés, et s'ils étaient repoussés par l'opinion générale, je serais le premier à reconnaître que j'ai pu me tromper; mais en voyant croître sans cesse le nombre des adhérents, dans tous les rangs de la société et dans tous les pays du monde, je dois croire à la solidité des bases sur lesquelles ils reposent; c'est pourquoi je vous dis en toute sécurité de marcher d'un pas ferme dans la voie qui vous est tracée; dites à vos antagonistes que, s'ils veulent que vous les suiviez, ils vous offrent une doctrine plus consolante, plus claire, plus intelligible, qui satisfasse mieux la raison, et qui soit en même temps une meilleure garantie pour l'ordre social; déjouez, par votre union, les calculs de ceux qui voudraient vous diviser; prouvez enfin, par votre exemple, que la doctrine rend plus modéré, plus doux, plus patient, plus indulgent, et ce sera la meilleure réponse à faire à ses détracteurs, en même temps que la vue de ses résultats bienfaisants est le plus puissant moyen de propagande.

Voilà, mes amis, les conseils que je vous donne et auxquels je joins mes vœux pour l'année qui commence. Je ne sais quelles épreuves Dieu nous destine pour cette année, mais je sais que, quelles qu'elles soient, vous les supporterez avec fermeté et résignation, car vous savez que, pour vous comme pour le soldat, la récompense est proportionnée au courage.

Quant au Spiritisme, auquel vous vous intéressez plus qu'à vous- mêmes, et dont, par ma position, je puis mieux que personne juger les progrès, je suis heureux de vous dire que l'année s'ouvre sous les auspices les plus favorables, et qu'elle verra, sans aucun doute, le nombre des adeptes s'accroître dans une proportion impossible à prévoir; encore quelques années comme celles qui viennent de s'écouler, et le Spiritisme aura pour lui les trois quarts de la population. Laissez- moi vous citer un fait entre mille.

Dans un département voisin de Paris est une petite ville où le Spiritisme a pénétré depuis six mois à peine. En quelques semaines, il y a pris un développement considérable; une opposition formidable fut aussitôt organisée contre ses partisans, menaçant même leurs intérêts privés; ils ont tout bravé avec un courage, un désintéressement dignes des plus grands éloges; ils s'en sont remis à la Providence, et la Providence ne leur a pas fait défaut. Cette ville compte une population ouvrière nombreuse parmi laquelle les idées spirites, grâce à l'opposition qu'on y a faite, se font jour rapidement; or, un fait digne de remarque, c'est que des femmes, des jeunes filles ont attendu leurs étrennes pour se procurer les ouvrages nécessaires à leur instruction, et c'est par centaines qu'un libraire a été chargé d'en expédier dans cette seule ville. N'est-il pas prodigieux de voir de simples ouvrières réserver leurs économies pour acheter des livres de morale et de philosophie plutôt que des romans et des colifichets? des hommes préférer cette lecture aux joies bruyantes et abrutissantes du cabaret? Ah! C'est que ces hommes et ces femmes, qui souffrent comme vous, comprennent maintenant que ce n'est pas ici-bas que leur sort s'accomplit; le rideau se lève, et ils entrevoient les splendides horizons de l'avenir. Cette petite ville est Chauny, dans le département de l'Aisne. Nouveaux enfants dans la grande famille, ils vous saluent, frères de Lyon, comme leurs aînés, et forment désormais un des anneaux de la chaîne spirituelle qui unit déjà Paris, Lyon, Metz, Sens, Bordeaux et autres, et qui reliera bientôt toutes les villes du monde dans un sentiment de mutuelle confraternité; car partout le Spiritisme a jeté des semences fécondes, et ses enfants se tendent déjà la main par-dessus les barrières des préjugés de sectes, de castes et de nationalités.

Votre tout dévoué frère et ami,

ALLAN KARDEC.

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